No dia 9 de março, foi realizada a Aula Magna que marcou o início do primeiro semestre de 2017 da ESEG para os alunos do turno da noite, com a palestra do Diretor de Estratégia, Inteligência de Mercado e Business Excellence da Siemens no Brasil, José Borges Frias Júnior, que falou sobre o conceito de Indústria 4.0 e sobre como ela é importante para a retomada do crescimento da indústria brasileira. Formado em Engenharia Mecânica e Administração, o convidado foi recepcionado pela coordenadora e professora da ESEG, Silvia Boarin, e pelo professor João Ferreira Netto.

O termo Indústria 4.0 remete a uma forma de produção totalmente digitalizada. Foi desenvolvido pelo governo da Alemanha juntamente com grandes empresários do setor no país para indicar que tinham saído na frente com a implementação da “Indústria do Futuro” – como ela também é chamada.

Embora remeta a uma possível 4ª Revolução Industrial, ainda em curso, o especialista considera o momento mais como evolução do que revolução, uma vez que as tecnologias que estão permitindo esse avanço já estão disponíveis no dia-a-dia. “Não é tecnologia descoberta agora, é juntar o virtual com o mundo real. Simular e testar no ambiente virtual o que se deseja aplicar no mundo real, sendo a internet das coisas um dos exemplos mais significativos”, explicou.


Novos consumidores, novas formas de produzir e ganhar competitividade

Ele apontou que a globalização e o acesso massificado à informação contribuíram muito para acelerar o processo. Ficou mais difícil agradar o consumidor. No modelo clássico de consumo, a empresa criava e oferecia o produto pronto ao consumidor - conhecido como business-to-customer (B2C). Agora, o consumidor especifica para a empresa aquilo que quer – customer-to-business (C2B). O desafio é conseguir oferecer produtos diferentes e com alta qualidade para cada consumidor rapidamente.

Segundo Borges, o primeiro passo para fazer uma Empresa 4.0 é ter uma visão holística da cadeia de produção, observando desde o setor de projeto até a chegada ao consumidor final. Em seguida, deve haver uma padronização dos sistemas de segurança e tecnologia da informação que permitam a digitalização e integração de todos os processos produtivos. Quando isso é alcançado, a empresa consegue simular todas as mudanças no mundo virtual.

“A simulação online permite que sejam previstos e corrigidos os erros que aconteceriam na prática, o que agiliza a produção, flexibiliza a criação de novos produtos, reduz erros de implementação, torna o processo mais fluido e aproveita os recursos disponíveis de forma mais eficiente, sem desperdícios. É isso que dá maior competitividade frente aos concorrentes” afirmou.



O valor das pessoas

Mas não é preciso temer a Indústria 4.0. Durante a palestra, Borges citou um caso em que um braço robótico de uma máquina agarrava um objeto e não conseguia soltá-lo no local correto pois formava uma espécie de vácuo entre a máquina e o produto. Foi preciso que a pessoa responsável pelo setor percebesse o problema, identificasse a causa (o vácuo formado) e programasse a máquina para executar um movimento diferente que impedia a formação do vácuo.

“A Indústria do Futuro veio para elevar a qualidade de vida do ser humano. Ela vai possibilitar que nos concentremos em atividades mais nobres, de maior raciocínio e criatividade”, comentou.

Questionado pelos alunos da ESEG sobre como se manter atualizado para essa mudança, Borges disse que é essencial desenvolver uma “visão holística dos negócios. É preciso ser criativo e transitar em várias disciplinas. O profissional do futuro não está focado só em uma área: sabe de tecnologia, pensa no impacto ambiental, social etc.”, afirmou.


Indústria brasileira

Embora o país passe por um momento de crise, com um forte processo de “desindustrialização”, Borges mostra-se e diz que o Brasil pode aproveitar esse “momento de virada” para se tornar um forte competidor internacional. “A Indústria 4.0 vai ser a grande alavanca para um salto de produtividade. O país precisa utilizar as vantagens dessa tecnologia para se inserir nessa cadeia global de valor com produtos que não sejam tão caros e que tenham alta qualidade. Caso contrário, continuará dependente de commodities”, disse.

Segundo o palestrante, o brasileiro tem muitas características vistas no mundo todo como positivas e que podem facilitar a implantação de novos modelos de indústria antenados com as demandas do século XXI. “Somos curiosos, aceitamos bem as novas tecnologias e não costumamos repelir as inovações. Além disso, setores da indústria brasileira como automobilístico, aeroespacial, químico-farmacêutico e de food and beverage já apresentam grandes avanços na adoção desse formato”, diz.

Borges finalizou dizendo de empresa de todos os tamanhos podem se beneficiar desse modelo de indústria, mas que não é algo que acontece da noite para o dia. “É algo que deve ser pensado e adotado aos poucos, sem ferir a sustentabilidade orçamentária e se adequando à legislação vigente”, lembra.

Confira o vídeo sobre o evento aqui.